sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Futebol, televisão, clube dos 13, cbf... patifaria...

Coluna de Antero Greco, no estadão.
Nessa conversa todo mundo mete o dedo, só o torcedor que não é convidado.

Ninguém é santo*


O assunto da semana aparentemente é de uma chatice maior do que discurso de aspone em festa de fim de ano na firma. Só se fala em racha no Clube dos 13, rebelião destes ou daqueles, revolução no futebol brasileiro, novos tempos… Um blablabá interminável, que tem por base avidez por dinheiro, briga política, busca de poder e disputa por audiência de televisão. O que, no fundo, é tudo a mesma coisa. A pitada de ridículo, também ligado ao tema, vai para a polêmica em torno do destino da Taça das Bolinhas, o que está mais para birra de criança do que para mérito esportivo.
A discussão dos principais times brasileiros parece essencialmente prática. Os cartolas estariam preocupados com as finanças de suas agremiações e, para tanto, empenham-se em batalhas árduas por melhor remuneração nos contratos com a mídia, sobretudo as emissoras de tevê abertas. Fosse só isso, tratar-se-ia de controvérsias rotineiras no mundo dos negócios e mera obrigação dos dirigentes/administradores.
Os debates, porém, ultrapassam esse patamar. Diferenças entre os digníssimos donos da bola sempre existiram, como em qualquer associação. Muitos se suportavam em nome dos interesses comuns. Esses interesses, agora, tomam rumos diferentes com a perspectiva de transações mais valiosas e diversificadas (contratos separados para tevês a cabo, pay-per-view, internet, telefonia celular). Ou sobretudo com a possibilidade de mudança na relação comercial com alguns meios de comunicação.
Aí a porca começou a torcer o rabo. Não é segredo que há embate feroz entre Globo e Record, hoje as mais influentes redes de tevê do país. Ambas se digladiam por números sempre mais significativos no ibope e têm o esporte como produto formidável para cativar audiência. Por isso, garimpam competições para transmitir – o Campeonato Brasileiro de futebol é o principal objeto de desejo.
Pela tradição e pela excelência no trabalho, a Globo sempre teve a preferência, até para saber de antemão o que eventuais concorrentes estariam dispostos a oferecer. O trâmite desta vez mudou e o Clube dos 13 resolveu receber propostas fechadas para as edições de 2012 a 2014 do torneio. A Globo teria ainda o benefício de ver seu contrato reconfirmado se os valores apresentados por outras redes não forem superiores a 10% do que ela espera pagar. Basicamente é isso – só para entender o caso e sem enveredar por pormenores técnicos e jurídicos.
Com o processo em andamento, entraram em campo simpatias, predileções e conveniências de clubes e seus mandachuvas. A CBF também tem a sua (adivinha qual?) e jogou com as armas de que dispõe. Não foi de graça que reconheceu o Fla campeão nacional de 1987, ao lado do Sport. A adesão rubro-negra (a do Corinthians havia tempos estava no papo) a essa causa era fundamental, por seu apelo popular. Sem contar que estava passada com o Clube dos 13 e com vários times que em 2010 derrotaram Kléber Leite, o candidato da casa, e preferiram continuar com Fabio Koff no comando.
Não está claro o desfecho da cisão, e muita pressão vai rolar. Só não caia na conversa de que há mocinhos de um lado e bandidos de outro. Não é guerra santa, nem há ideologia envolvida. Andrés Sanchez não é novo Dom Quixote. Todos olham para si e fazem parcerias de ocasião. Business
Não tenho nada com a disputa das TVs. Mas pena que prevaleça por aqui a mentalidade da “exclusividade”, do só eu posso ter o evento e não quero ninguém a incomodar-me. Nos EUA, três redes abertas mostram NFL, com direito a chamadas para jogos (diferentes) a serem transmitidos na concorrência. Têm tal procedimento por estratégia, e todos faturam – emissoras, anunciantes, clubes, torcedores, telespectadores. Isso é profissionalismo, é capitalismo inteligente.
Não é assim. No tuíter, Ronaldo mostra desalento ao afirmar que jogador não tem direito a aposentadoria (com a ressalva de que não advoga em causa própria). Claro que tem: basta contribuir para o INSS por 35 anos, como qualquer trabalhador. Ou requerer o benefício com 65 anos de idade.

*(Texto da minha coluna no Estado de hoje, 25/2/2011)

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