segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Raquel Rolnik - Imóveis vazios existentes no país podem acomodar a maioria dos sem-teto

Do EcoDebate.
Bons tempos eram os da revolução cubana, quando Fidel tomou Havana e transformou os imóveis da turma da prostituição e jogos de azar em residências para a população.

Déficit habitacional vai sempre existir, se não vencermos a indústria da construção civil e da especulação imobiliária.


Imóveis vazios existentes no país podem acomodar a maioria dos sem-teto, diz relatora da ONU

Publicado em fevereiro 28, 2011 por HC
O número de imóveis desocupados atualmente no país pode abrigar a maioria da população sem teto, disse, no dia 26/2, a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada e urbanista da Faculdade e Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Raquel Rolnik.
Segundo ela, há cerca de 5 milhões de unidades vazios, quase o número estimado do déficit habitacional, de 6 milhões de moradias. “Será que a construção de casas é o nosso problema?”, perguntou Raquel, ao participar da 3ª Jornada da Moradia Digna- O Impacto dos Megaprojetos e as Violações do Direito à Cidade, que prosseguirá até amanhã na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo.
O encontro reuniu durante todo o dia de hoje representantes das comunidades de baixa renda, líderes de movimentos sociais e de organizações não governamentais (ONGs) e da Defensoria Pública. O objetivo é discutir a situação das famílias ameaçadas de despejo ou remoção por causa da preparação do país para sediar a Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
De acordo com Raquel, as obras para os dois eventos resultaram em “uma intervenção urbanística nas cidades com projetos que afetam profundamente a vida das comunidades, provocando remoções [de favelas] e despejos, o que é uma violação dos direitos humanos.”
Para ela, falta um planejamento mais estruturado de atendimento as famílias de baixa renda . É essa faixa da população, acentua, que mais sofre com as desapropriações. A urbanista afirmou que tem recebido denúncias sobre indenizações pagas para que as famílias deixassem uma determinada área, mas cujos valores são insuficientes para comprar um imóvel ou mesmo arranjar outra moradia.
Ainda segundo ela, famílias com ganhos mensais até três salários mínimos não têm obtido acesso ao programa Minha Casa, Minha vida. Raquel acha que falta maior participação da população nas decisões das políticas públicas municipais, estaduais e federais.
Ela também defende a criação de espaços para essa população nas áreas mais desenvolvidas das regiões metropolitanas, onde há melhor infraestrutura, como escolas, hospitais, entretenimento e trabalho. “Tirar as as pessoas de onde elas vivem e colocá-las a 50 quilômetros de distância é alimentar a máquina de exclusão territorial e as ocupações em áreas de risco”.
Reportagem de Marli Moreira, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 28/02/2011
Nota do EcoDebate: sobre o mesmo tema leiam, ainda, a matéria “Número de casas vazias supera déficit habitacional brasileiro, indica Censo 2010

Vídeo - Obsolecência Programada

Recebi por email. Ainda não tive tempo de ver, mas recebi excelentes comentários.

"Documentário GENIAL sobre obsolescência programada, esse acordo tácito cada vez mais bizarro do capitalismo, de produzir bens com hora marcada para quebrarem, forçando assim o consumo irrefreado. Tá disponível no YouTube, com narração e legendas em castellano, então acho que dá pra entender bem. Vale a pena, recomendo muito a todos que não acham nada de natural em ser mais barato jogar um ipod fora do que mandar consertar (para não falar de geladeiras, máquinas de lavar etc)."

O lobby das tevês, sem fair-play

Da carta capital.


O lobby das tevês, sem fair-play



A negociação bilionária das cotas do Brasileirão racha o Clube dos 13. Os clubes com maior torcida exigem uma participação proporcional nos repasses da tevê. Por Rodrigo Martins. Foto: Filipe Araújo/Folhapress
A negociação bilionária das cotas do Brasileirão racha o Clube dos 13
A Globo e aCBF estavam em festa. Parecia um racha sem volta, a implosão definitiva do Clube dos 13, entidade que há mais de duas décadas representa os 20 maiores clubes brasileiros na negociação dos direitos de transmissão das competições nacionais. O primeiro a desertar foi o Corinthians, ao anunciar, na quarta-feira 23, que negociaria seus direitos no Campeonato Brasileiro por conta própria. Afoitos diante da promessa de lucro maior no voo-solo, Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo aderiram à rebelião. Na raiz do problema, os desacertos a envolver as milionárias cifras a que os clubes têm direito por sua exposição na tevê. A lista de possíveis desertores não parava de crescer: Coritiba, Goiás, Vitória, Palmeiras, Cruzeiro…
Mas em 24 horas o discurso insurgente amainou. “Estamos desfiliados do Clube dos 13, mas não existe rancor. Não ofendi ninguém, apenas não concordo com algumas questões”, afirmou o presidente corintiano, Andrés Sanchez, pivô da crise, ao dizer que “não descarta” um retorno à entidade. Os clubes do Rio, que devem ao menos 60 milhões de reais ao C13, também baixaram o tom. “Não há interesse em se distanciar ou romper neste momento, mas de retomar a essência da entidade. Não pensamos em formar liga (paralela ao Campeonato Brasileiro). A questão é a negociação dos direitos de transmissão”, ressaltou Patrícia Amorim, do Flamengo, durante a entrevista coletiva dos presidentes dos quatro grandes clubes cariocas.
Pela primeira vez desde que o Clube dos 13 foi criado, em 1987, a entidade lançou um edital de licitação para os direitos de transmissão do Campeo­nato Brasileiro sem a cláusula que garantia prioridade à Globo. A exclusão do chamado “direito de preferência” é fruto de uma decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), autarquia do Ministério da Justiça. No parecer assinado pelo procurador Fernando Antônio de Oliveira Júnior, em 28 de outubro de 2010, exigiu-se o fim do benefício para garantir uma concorrência justa no “licenciamento de direitos para as temporadas que se iniciam no ano de 2012”. Graças à medida, outras emissoras manifestaram interesse de transmitir o campeonato, o que permitiu ao Clube dos 13 dobrar o valor pedido pela cota mínima na licitação para o triênio 2012-2014.
Atualmente, a Globo paga cerca de 400 milhões de reais por ano para explorar os jogos no Brasileirão na tevê aberta, na tevê paga, na internet e em placas de publicidade. No edital que acaba de ser finalizado, apenas para transmitir as partidas na tevê aberta, a emissora que vencer a concorrência terá de pagar, no mínimo, 500 milhões de reais. Somadas as demais plataformas, vendidas separadamente, o C13 espera arrecadar mais de 1,3 bilhão de reais por ano. Para a Globo, o risco de perder o contrato para a concorrente Record é alto. Estima-se que a emissora da família Marinho fature ao menos 1 bilhão de reais por ano com a publicidade veiculada no horário dos jogos. Além disso, o futebol é um dos principais pilares da programação da Globo há mais de duas décadas.
Isso talvez explique o empenho de Ricardo Teixeira, fiel aliado da Globo, em tentar eleger um aliado na presidência do Clube dos 13 no ano passado. O chefe da CBF apoiou a candidatura de Kleber Leite, ex-Flamengo, mas quem levou a melhor foi o gaúcho Fábio Koff, ex-Grêmio, reeleito para mais três anos à frente da entidade. Naquela ocasião, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, demonstrou fidelidade a Teixeira e pediu votos para Leite. Dois meses depois, viraria chefe da delegação brasileira na Copa da África do Sul. Meses mais tarde, anunciaria o seu projeto de estádio para o Corinthians, que prontamente recebeu o endosso da CBF para sediar os jogos da Copa de 2014 em São Paulo. Por trás do racha iniciado por Sanchez no Clube dos 13, especula-se, está mais do que a tentativa de engordar as receitas do Corinthians com uma negociação individual. Existiria, na verdade, uma verdadeira aliança entre a Globo, a CBF e o presidente corintiano para minguar qualquer possibilidade de a Record vencer a licitação.
Sanchez nega qualquer insinuação a respeito. Diz não ter preferência entre as emissoras e garante ter se encontrado com executivos da Record para negociar os direitos do clube. Além disso, atribuiu a saída do C13 a “uma série de desmandos administrativos”. Também falou em falta de lisura na elaboração do edital de concorrência, uma vez que presenciou dirigentes da organização a discutir detalhes do contrato por telefone com executivos das emissoras interessadas. “Se ele não tivesse pedido a desfiliação, eu proporia a sua expulsão por esse comportamento moleque e irresponsável”, rebateu Fábio Koff, visivelmente irritado, ao receber a carta de desfiliação.
Ataíde Gil Guerreiro, diretor-executivo do C13 e responsável pela formatação do edital, esclareceu à imprensa que as emissoras foram contatadas para informar a decisão de oferecer um ágio de 10% à proposta da Rede Globo, em razão de sua maior audiência e participação no mercado publicitário. “Ele (Sanchez) está querendo ser o advogado da Globo. Não existe nenhuma falta de lisura. Não aceito entrar em uma farsa. As regras estão definidas. Vai ganhar aquele que fizer a melhor proposta”, afirmou Guerreiro, pouco antes de acusar a emissora da família Marinho de aliciar alguns times para criar um racha e impedir o processo de licitação. “Têm alguns clubes que pela primeira vez estão recebendo adiantamento da Globo. O normal é você ter um contrato, pegar o documento e levar no banco para antecipar o recurso. A partir de determinado momento, ela começou a fazer o papel do banco. Em vez de fazer (empréstimos) pelo banco, a própria Globo fazia.”
Nos casos do Flamengo e do Corinthians, é real a possibilidade de que uma negociação individual fosse mais favorável. Isso porque eles possuem as maiores torcidas e dão mais audiência às emissoras de tevê, embora, hoje, recebam o mesmo porcentual destinado a São Paulo, Palmeiras e Vasco, clubes com menor exposição. De toda forma, Koff garante que Sanchez não pleiteou uma verba maior antes de anunciar sua saída do C13. Quanto aos demais times cariocas rebelados, acha difícil que eles ganhem mais caso abandonem a negociação conjunta.
A mesma percepção tem o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil. “Estamos dobrando a receita dos clubes. Eu quero que os dissidentes expliquem à sua torcida como eles pretendem ganhar mais dinheiro negociando sozinhos”, afirma o dirigente, participante da comissão que formatou o edital para a tevê aberta. “Recusar uma licitação que vai gerar 3,9 bilhões de reais em três anos é rasgar dinheiro. Mas alguns presidentes parecem gostar de ficar com o pires na mão.”
Em conversas informais, presidentes de clubes afirmam que muitos times são reféns da Globo na negociação, por receberem empréstimos e adiamentos dos direitos de transmissão sempre que a corda chega ao pescoço. No topo do ranking dos mais endividados estariam justamente os clubes cariocas. Boa parte da dívida de 60 milhões de reais com o Clube dos 13, na verdade, é de pagamentos antecipados pela Globo. De tantos adiantamentos, a receita com transmissões estaria comprometida até setembro.
A rebelião dos clubes do Rio teria, segundo fontes ouvidas por CartaCapital, um dedo do empresário J. Hawilla, dono da Traffic, que negocia marketing esportivo. Em dezembro do ano passado, a empresa assinou um contrato com o Fluminense para ser parceira na gestão de marketing do clube por dez anos. Além disso, foi graças ao suporte financeiro da Traffic que o Flamengo conseguiu contratar o meia Ronaldinho Gaúcho. Hawilla teria interesse em manter as transmissões do Brasileirão com a Globo por ser proprietário de uma rede regional de tevê, a TV TEM, afiliada à emissora da família Marinho. Ao todo, são quatro retransmissoras da Globo, que cobrem 318 municípios do interior paulista.
O clima está tão pesado que qualquer fato, por mais irrelevante que seja, alimenta a disputa. Uma semana depois de dar a Taça das Bolinhas ao São Paulo, pelo feito de ser o primeiro clube a conseguir cinco títulos brasileiros, a CBF reconheceu o Flamengo como campeão de 1987, ao lado do Sport. Com esse reconhecimento, o Flamengo seria, em tese, o verdadeiro herdeiro da Taça. Experiente, Juvenal Juvêncio, presidente do clube paulista, não perdeu o foco. “A CBF está fazendo um jogo para ver se nos divide. Pode rachar, mas acaba se ajustando no processo”, afirmou. “Assunto de Taça de Bolinhas não é sério, estamos discutindo um contrato bilionário.”
A Globo não comentou as acusações de ter pressionado os clubes, por meio de empréstimos ou adiantamentos. Também não esclareceu se pretende lançar uma proposta ou se está negociando isoladamente com os clubes. “A TV Globo só vai se pronunciar sobre a renovação dos direitos do Campeo­nato Brasileiro após avaliar os termos do edital”, informou a assessoria de imprensa da emissora. A Record usou o mesmo argumento para não falar sobre a negociação.
Com ou sem racha, o C13 promete levar adiante o processo de licitação. As ofertas seriam apresentadas em 11 de março. Diante da ameaça de deserção de alguns clubes – ou mesmo da negociação em separado -, a entidade não descarta a possibilidade de o edital virar objeto de disputa judicial. “O que todos precisam entender é que o Cade e o Ministério Público acompanharão a questão de perto, e não há espaço para privilegiar uma ou outra empresa”, diz Guerreiro.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Um pouco mais de futebol, mas nada de bola rolando

De Rodrigo Vianna, da Carta Capital.


Confusões no futebol

O Clube dos Treze, o “moleque” espertalhão e o exemplo argentino
Acabo de voltar da Argentina. Passei dias agradáveis em Buenos Aires. Sábado, fim da tarde. Depois de uma longa jornada de caminhadas por Palermo e Barrio Norte, parei com minha mulher num café. Na tela: Newell´s x Lanús. Só o garçom e eu parecíamos interessados na partida. O time de Rosário faturou, com um gol no finzinho: 2 a 1.
Cheguei ao hotel às 10 da noite, e liguei a TV. Já havia outro jogo, ao vivo, na tela: Racing versus Boca. Jogaço. O Racing (time pelo qual tenho simpatia, sabe-se lá porque – era o time do coração de Kirchner, e ele morreu do coração…) jogava melhor. Mas o Boca fez um a zero no contra-ataque, e segurou o resultado.
Acompanhei só o primeiro tempo (até porque me esperava um belo bife de chorizo com purê de papas). No intervalo, entrou propaganda institucional do governo argentino: “obras na província de Chubut”.  Anúncio curto. Fiquei esperando a propaganda privada. E nada. O sinal voltou ao estádio para os comentários e melhores momentos (os locutores argentinos são impagáveis, com aqueles ternos anos 70, com um lencinho pendurado do bolso). Novo intervalo: de novo, anúncio institucional do governo… E só então lembrei: na Argentina, os direitos de transmissão do futebol foram comprados pela TV pública!!! Mais um capítulo da briga entre Cristina Kirchner e as TVs privadas.
Nesse caso, parece que o público saiu em vantagem. Há jogos em horários variados: sábado à tarde, à noite. Domingo à tarde e à noite. Tudo pela TV aberta. Dizem-me que, antes do Estado entrar na parada, os jogos passavam só pela TV a cabo (agradeço se alguém trouxer informações mais detalhadas sobre isso…)  Não sei se os horários já eram assim quando a transmissão estava nas mãos das TVs particulares. Não vou mais longe nos comentários, porque não conheço os detalhes das negociações na Argentina.
Mas claro que lembrei disso tudo quando voltei a São Paulo e dei de cara com essa barafunda no Clube dos 13.
O Corinthians, meu time do coração, acaba de se desfiliar do Clube dos 13. Andres Sanchez, com aquela cara de espertalhão mexicano de filme “B”, foi chamado de “moleque” e “advogado da Globo” pela direção do Clube dos 13.
Pra quem não acompanha a confusão: pela primeira vez, a Globo corria o risco de perder a transmissão do futebol. É que, até hoje, a Globo sempre teve direito de “cobrir” a proposta apresentada por qualquer concorrente. Dessa vez, seria diferente: envelopes fechados seriam apresentados com as propostas. Para transmitir jogos na TV aberta, o lance mínimo seria 500 milhões de reais. Direitos da TV fechada, internet e pay-per-view (quando o telespectador paga pra ter direito a transmissão de jogos específicos): tudo isso seria negociado à parte.
A Globo corria risco sério. Alguns clubes alegavam que, mesmo com valor um pouco menor, valeria a pena aceitar a proposta da Globo, por causa do “tradição” da emissora, da “capilaridade da rede” (a Globo, de fato, tem uma rede bem montada e estruturada em todo o país). O Clube dos Treze, então, estabeleceu uma cláusula razoável: para vencer a Globo, os concorrentes teriam que oferecer ao menos 10% mais do que a emissora da família Marinho. Mas as ofertas seriam feitas no escuro, sem privilégios.
Se a Record oferecesse 650 milhões de reais e a Globo 600 milhões, a transmissão ficaria com a Globo. Mas se a Record oferecesse 800 milhões e a Globo 600 milhões de reais, aí a emissora de Edir Macedo ganharia a disputa.
A situação não era confortável para a TV Globo. Teria que jogar, e tentar ganhar “na bola”. Sem ajuda do juiz. O que fez o Andrez Sanches? Tirou o time de campo. Agiu sozinho? Não. Com ele estariam saindo do Clube dos 13 Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo. Grêmio também poderia seguir esse caminho.
Ou seja: o Clube dos 13 (que, apesar do nome, representa duas dezenas de clubes) está em decomposição. E ele é que tem o direito de negociar as transmissões em nome dos clubes.
A barafunda está criada! Os cinco ou seis dissidentes vão negociar à parte com a Globo? E se os outros fecharem com a Record?
Como disse um jornalista amigo meu: aos 44 do segundo tempo, o jogo estava zero a zero. Pênalti pra Record. Aí alguém apaga a luz do estádio. “Alguém”! Quem seria? Andres apagou a luz sozinho?
Os espertalhões mexicanos normalmente atuam em parceria com um sócio rico do outro lado da fronteira.
Andres conseguiu (será?) o estádio para o Corinthians. A CBF (que é parceira da Globo, e não se dá tão bem com a atual direção don Clube dos 13) tirou o Morumbi da Copa. Retaliação contra o São Paulo F. C. O time do Morumbi não aceita cartas marcadas na negociação. Queria entregar os direitos a quem pagasse mais. Seria a decisão “capitalista”.
Mas o Brasil é terra de “capitalistas de araque”. Capitalismo sem concorrência.
A Globo perdeu o direito às Olimpíadas porque lá vale o óbvio: quem paga mais leva. No futebol brasileiro, valem os arranjos dos poderosos de outros tempos com os espertalhões fajutos.
O futebol é algo tão sério para o brasileiro que o governo federal deveria intervir nessa história. Intervir, não: “arbitrar”. Já que a concorrência não vale, deixemos o Estado cuidar disso.
Não digo que precisemos imitar a Argentina, com jogos transmitidos pela TV pública. Mas que tal a TV pública brasileira entrar na disputa, montar um pacote razoável de horários, e depois vender cada horário para uma emissora privada?
Seria o fim do monopólio. E o fim dos espertalhões.
Mas quem acredita nisso…
O mais provável é que se estabeleça a confusão. Isso a 3 anos da Copa.

Futebol, televisão, clube dos 13, cbf... patifaria...

Coluna de Antero Greco, no estadão.
Nessa conversa todo mundo mete o dedo, só o torcedor que não é convidado.

Ninguém é santo*


O assunto da semana aparentemente é de uma chatice maior do que discurso de aspone em festa de fim de ano na firma. Só se fala em racha no Clube dos 13, rebelião destes ou daqueles, revolução no futebol brasileiro, novos tempos… Um blablabá interminável, que tem por base avidez por dinheiro, briga política, busca de poder e disputa por audiência de televisão. O que, no fundo, é tudo a mesma coisa. A pitada de ridículo, também ligado ao tema, vai para a polêmica em torno do destino da Taça das Bolinhas, o que está mais para birra de criança do que para mérito esportivo.
A discussão dos principais times brasileiros parece essencialmente prática. Os cartolas estariam preocupados com as finanças de suas agremiações e, para tanto, empenham-se em batalhas árduas por melhor remuneração nos contratos com a mídia, sobretudo as emissoras de tevê abertas. Fosse só isso, tratar-se-ia de controvérsias rotineiras no mundo dos negócios e mera obrigação dos dirigentes/administradores.
Os debates, porém, ultrapassam esse patamar. Diferenças entre os digníssimos donos da bola sempre existiram, como em qualquer associação. Muitos se suportavam em nome dos interesses comuns. Esses interesses, agora, tomam rumos diferentes com a perspectiva de transações mais valiosas e diversificadas (contratos separados para tevês a cabo, pay-per-view, internet, telefonia celular). Ou sobretudo com a possibilidade de mudança na relação comercial com alguns meios de comunicação.
Aí a porca começou a torcer o rabo. Não é segredo que há embate feroz entre Globo e Record, hoje as mais influentes redes de tevê do país. Ambas se digladiam por números sempre mais significativos no ibope e têm o esporte como produto formidável para cativar audiência. Por isso, garimpam competições para transmitir – o Campeonato Brasileiro de futebol é o principal objeto de desejo.
Pela tradição e pela excelência no trabalho, a Globo sempre teve a preferência, até para saber de antemão o que eventuais concorrentes estariam dispostos a oferecer. O trâmite desta vez mudou e o Clube dos 13 resolveu receber propostas fechadas para as edições de 2012 a 2014 do torneio. A Globo teria ainda o benefício de ver seu contrato reconfirmado se os valores apresentados por outras redes não forem superiores a 10% do que ela espera pagar. Basicamente é isso – só para entender o caso e sem enveredar por pormenores técnicos e jurídicos.
Com o processo em andamento, entraram em campo simpatias, predileções e conveniências de clubes e seus mandachuvas. A CBF também tem a sua (adivinha qual?) e jogou com as armas de que dispõe. Não foi de graça que reconheceu o Fla campeão nacional de 1987, ao lado do Sport. A adesão rubro-negra (a do Corinthians havia tempos estava no papo) a essa causa era fundamental, por seu apelo popular. Sem contar que estava passada com o Clube dos 13 e com vários times que em 2010 derrotaram Kléber Leite, o candidato da casa, e preferiram continuar com Fabio Koff no comando.
Não está claro o desfecho da cisão, e muita pressão vai rolar. Só não caia na conversa de que há mocinhos de um lado e bandidos de outro. Não é guerra santa, nem há ideologia envolvida. Andrés Sanchez não é novo Dom Quixote. Todos olham para si e fazem parcerias de ocasião. Business
Não tenho nada com a disputa das TVs. Mas pena que prevaleça por aqui a mentalidade da “exclusividade”, do só eu posso ter o evento e não quero ninguém a incomodar-me. Nos EUA, três redes abertas mostram NFL, com direito a chamadas para jogos (diferentes) a serem transmitidos na concorrência. Têm tal procedimento por estratégia, e todos faturam – emissoras, anunciantes, clubes, torcedores, telespectadores. Isso é profissionalismo, é capitalismo inteligente.
Não é assim. No tuíter, Ronaldo mostra desalento ao afirmar que jogador não tem direito a aposentadoria (com a ressalva de que não advoga em causa própria). Claro que tem: basta contribuir para o INSS por 35 anos, como qualquer trabalhador. Ou requerer o benefício com 65 anos de idade.

*(Texto da minha coluna no Estado de hoje, 25/2/2011)

Canoa Quebrada - Mais um descaso ambiental

Do Diário do Nordeste.


EROSÃO EM CANOA QUEBRADA

Aracati decreta situação de emergência

25/2/2011 

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Uma pavimentação imprópria e serviço de drenagem mal feito são apontados como as grandes causas de uma grande fenda aberta em uma falésia da vila de Canoa Quebrada 
FOTO: JURACY MONTENEGRO
Técnicos da Semace e do Ibama estiveram ontem verificando a grande erosão na falésia de Canoa Quebrada
Aracati. Muito embora o processo natural das marés colabore com a erosão das falésias, é fato que é a falha humana quem piora tudo do dia para a noite, literalmente. Uma pavimentação imprópria e serviço de drenagem mal feito são apontados como as grandes causas de uma grande fenda aberta em uma falésia dividindo o povoado da vila de Canoa Quebrada. 

A água das chuvas escoa forte e abre ainda mais rapidamente o buraco, causando risco de acidentes. A lentidão do caso fica para a ação humana. A Prefeitura decretou situação de emergência nesta semana, há dois anos de quando começou o problema.

Técnicos da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e do Ibama estiveram ontem verificando a grande erosão na falésia de Canoa Quebrada. A visita foi a pedido da população que, cansada de esperar, quer tomar uma providência por conta própria, que seja uma forma de ´tapar´ o buraco.

Era só uma rachadura, cresceu e virou uma enorme fenda, apelidada jocosamente de "buraco do Expedito", em alusão ao prefeito municipal, que em 2009 autorizou o serviço de pavimentação na vila de Canoa Quebrada. A obra, em parceria com o Governo do Estado, ficou inacabada e foi "mal feita", conforme Francisco Edvando, o "Louro", presidente do Conselho Comunitário. O problema é que quando chove a água escorre no sentido das falésias, exatamente para onde não deveria ir.

Com as fortes chuvas caídas em Aracati - e todo o Ceará - em 2009, a correnteza se formou em cima da falésia, que não aguentou e rachou. O Caderno Regional esteve lá à época conferindo e denunciando o problema sofrido pela comunidade, principalmente os moradores da Vila dos Esteves, vizinha à de Canoa. "O acesso aos Esteve só se dá agora de trator ou buggy", reclama o ´Louro´, do Conselho Comunitário. A mesma preocupação é sentida pelo educador ambiental Tércio Velardi, da ONG ReciCriança. Lá dezenas de crianças e jovens frequentam diariamente a sede cujos trabalhos são referência nacional.

As falésias estão situadas em uma região de Área de Proteção Ambiental, daí a necessidade de a Semace decidir sobre o que ser feito diante da cratera. A APA de Canoa foi regulamentada em março de 1998, abrangendo uma área de seis mil hectares, que vai desde Porto Canoa, a leste, à foz do Rio Jaguaribe, a oeste.

No meio disso estão cerca de cinco mil pessoas nas comunidades de Cumbe, Canavieira, Estevão, Beirada e Canoa, além de manguezais, dunas, praias, picos e, claro, as falésias. Essa área já é motivo de duas ações civis pelo Ministério Público, uma exigindo a retirada das barracas e outra proibindo o passeio de carro pelas áreas de dunas e falésias.

Só quando estiver com a ´planta´ do sistema de saneamento no subterrâneo da comunidade, a Semace deve anunciar nos próximos dias uma alternativa para o problema. Para os moradores, a saída é colocar areia para ´fechar´ a fenda. A Prefeitura Municipal decretou situação de emergência e a coordenação municipal da Defesa Civil esteve no local, que já configura uma área de risco.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Prefeito de Manaus - Xenófobo e elitista

Vejam... do o globo.


Prefeito de Manaus bate-boca com moradora de área de rico e diz a ela 'morra, minha filha'





SÃO PAULO - O prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, bateu-boca com uma moradora de área de risco da cidade, durante visita ao local onde uma casa desabou, neste domingo, matando uma mulher e duas crianças soterradas. Para a Defesa Civil, o desmoronamento era uma tragédia anunciada, já que a casa havia sido construída em área de risco extremo. (Youtube: Veja as imagens )
A mulher, de 34 anos, identificada como Joelza Coelho, dormia com a filha e duas sobrinhas durante o temporal. A casa demoronou sobre elas e apenas a sobrinha de 2 anos foi resgatada com vida. Ela é filha do pedreiro Nei dos Reis. A outra filha dele, de um ano, morreu no local.
Então morra, minha filha. Morra....
- Graças a Deus que eles conseguiram resgatar uma de minhas filhas com vida - disse o pedreiro.
O velório da dona de casa Joelza Coelho, da filha Isabeli e da sobrinha Natália aconteceu a poucos metros de onde ocorreu o deslizamento de terra.
O prefeito Amazonino Mendes quis ver de perto o local da tragédia. Ele conversou com a população sobre as medidas que a Prefeitura pretende tomar e acabou batendo boca com uma moradora que cobrou ações do poder público.
- Vamos nos unir e fazer o méximo que a gente pode - disse ele.
Uma moradora que também perdeu a casa, cobrou providências.
- Mas o senhor quer nos ajudar como, prefeito - disse ela.
- Não fazendo casa onde não se deve - respondeu o prefeito.
- Mas prefeito, se nós estamos morando aqui é porque não temos condições de ter uma moradia digna - respondeu a mulher.
E o prefeito perdeu a compostura:
- Então morra, minha filha. Morra....
- Então nós vanos morrer prefeito. O senhor não faz nada por nós... - disse a mulher.
- Não diga besteira minha filha - respondeu Mendes.
E continuou:
- Você é de onde minha filha?
- Eu sou do Pará.
- Então pronto, tá explicado - disse o prefeito.
Depois da discussão, o prefeito falou como vai ajudar as famílias em área de risco.
- Agora sabe quem vai invadir aqui? O 'negão' aqui vai invadir a casa de vocês - referindo-se a ele mesmo.
O assessor Eduardo Gomes, da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Manaus, disse ao G1 que o prefeito foi local com o intuito de retirar as pessoas da área de risco. E que a frase em que ele fala sobre morte teria sido dita no "calor da discussão", porque os moradores insistiam em permanecer no local.
Em relação à frase em que o prefeito comenta o fato de a mulher ser do Pará, Gomes afirma que Manaus sofre uma migração muito forte de estados da região Norte e Nordeste. Segundo ele, geralmente, os migrantes têm baixo nível de escolaridade, pouca qualificação profissional e vão morar em áreas de risco.
Ainda segundo Gomes, há cerca de 50 mil famílias em área de risco em Manaus. A razão, segundo ele, é a migração de pessoas para a capital amazonense.
Em nota, a Secretaria de Comunicação informou que as famílias retiradas do local vão ficar em casas alugadas pela prefeitura, até que uma área definitiva seja determinada para receber as famílias.
Ainda no texto, a secretaria informou que a prefeitura vai distribuir aos moradores kits de madeira para a construção de nova moradia e fornecer uma cesta básica por família.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Saramago: Intranquilizar

Dos cadernos de Saramago.


Intranquilizar
Por Fundação José Saramago
Se o escritor tem algum papel é o de intranquilizar.

“Saramago: ‘Si España va bien, es una excepción, porque el mundo no va bien”, La Provincia, Las Palmas de Gran Canaria, 15 de Abril de 1998
In José Saramago nas Suas Palavras