NYT descobre a pólvora: CIA apoiava na Líbia
Chego de Brasília e vejo a notícia do ano, um furo de reportagem inagreditável do The New York Times: grupos de agentes da CIA trabalham clandestinamente há semanas na Líbia com objetivo de reunir informações para a realização de ataques aéreos e manter contato com os rebeldes que lutam contra Muamar Kadafi.
Não! Que surpresa! Mais cedo a Agência Reuters havia noticiando que “há duas ou três semanas”, o presidente Barack Obama assinou uma ordem que autoriza o apoio secreto do governo americano às forças rebeldes que tentam derrubar o líder líbio.
Não tem ONU, nem OTAN, nem coisa nenhuma. O ataque internacional à Líbia, independente de qualquer julgamento sobre o Governo líbio, se deu por ordem dos Estados Unidos e, sob o ponto de vista da ordem internacional, sem que tenha havido qualquer ataque do governo líbio a território estrangeiro. Ou seja, não houve violação da ordem internacional e os conflitos se deram ante uma sublevação armada – justa ou não – que conta, além da simpatia dos governos ocidentais, com seu apoio ao menos político-militar, como confirmam as fontes de imprensa independentes.
É por isso que está coberto de razão alguém que não pode ser chamado de belicista, o Frei Betto, ao afirmar em artigo que ” a ONU é, hoje, lamentavelmente, uma instituição desacreditada. Os EUA a utilizam para aprovar resoluções que justifiquem seu papel de polícia global a serviço de um sistema injusto e excludente. Quando a ONU aprova resoluções que contrariam a Casa Branca – como a condenação do bloqueio a Cuba e da opressão dos palestinos – ela simplesmente faz ouvidos moucos.
Diz ele: “Kadafi está no poder desde 1969. São 42 anos de ditadura. Por que os EUA e a União Europeia jamais falaram em derrubá-lo? Porque, apesar de seus atentados terroristas, era conveniente manter ali um déspota que atraía investimentos estrangeiros e impedia que chegassem à Europa os imigrantes ilegais da África subsaariana, ou seja, todos os países ao sul do deserto de Saara.”
Os EUA apóiam regimes despóticos numa fieira de países árabes, a começar pela Arábia Saudita. O discurso da democracia “não vale” quando os interesses econômicos e geopolíticos estão garantidos.
Como no caso do Iraque, a deposição do governo líbio trará tudo, menos paz e democracia para os cidadãos daquele país. E, povo após povo, irá fermentando o ressentimento em relação ao Ocidente, os conflitos tribais, a violência.
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