Chavez fala do perigo que as sete bases americanas na Colômbia representam para o progresso que a América do Sul vem conseguindo, para uma menor dependência aos EUA.
A carta de Chávez à Unasul
Atualizado em 27 de agosto de 2009 às 22:46 | Publicado em 27 de agosto de 2009 às 22:33
Em nome do espírito de Liberdade e Justiça desta suprema época de grandeza que nos convoca neste luminoso presente, quero lhes estender a todos minhas mais sinceras e fraternas saudações.
Começarei recordando que em 10 de agosto de 1809 foi pronunciado pelo valoroso povo equatoriano, o Primeiro Grito de sua desejada Independência em Quito. A mesma cidade em que hoje, a 200 anos de empreendido nosso incessante processo de Independência, reunimo-nos em razão de responder a um compromisso iniludível e uma esperança concreta: honrar o esforço de toda uma geração de libertadores que traçou o caminho das novas repúblicas de Nossa América.
À luz e sombra desta semente libertária, espalhada por nossos predecessores nestas imponentes terras da Abya Yala, reanimou-se a idéia da união de repúblicas, traçada pelo Libertador durante toda sua vida política.
O mesmo Bolívar que nos deixou estas premonitórias palavras em 6 de setembro de 1815, em sua Carta da Jamaica, a qual foi dirigida em resposta ao cidadão Henry Cullen, um súdito britânico residente em Falmouth; como uma grandiosa bitácora ideológica que, por oportuna e verdadeira, permito-me incluir nestas linhas: “Certamente a união é a que nos falta para completar a obra de nossa regeneração”.
Entretanto, nossa divisão não é estranha, porque tal é a marca das guerras civis disputadas geralmente entre dois partidos: conservadores e reformadores. Os primeiros são, em geral, mais numerosos, porque o império do costume produz o efeito da obediência às autoridades estabelecidas; os últimos são sempre menos numerosos, embora mais veementes e ilustrados. Deste modo a massa física se equilibra com a força moral, e a luta se prolonga, sendo seus resultados muito incertos. Por sorte nossa, a massa seguiu a inteligência.
Revelava o Pai Bolívar uma de suas grandes angustias: ver unidas todas as nações de nosso largo e comprido continente na Pátria Grande. O espírito da nação da Colômbia se expressou pela primeira vez no Estreitamento banhado por nosso indomável Orinoco, no ano de 1819. Surgida dos sonhos de Miranda, Colômbia foi feita realidade por nosso Bolívar naquele ano, e embora fosse desmembrada, seu ânimo, hoje mais que nunca, deve expressar-se para nos dar perseverança de que nunca se perderá. Nossa União era para Bolívar um pródigo fim, ao qual se chegaria unicamente através de feitos sensíveis e esforços bem dirigidos.
E hoje, a 200 anos daquele enorme gesto histórico, o nascimento da União de Nações Sulamericanas (Unasur), é a fiel amostra de que o processo de libertação de nossas nações continua impondo-se com mais vigor do que nunca. Entretanto, e trazendo para o presente toda esta síntese histórica, devo dizer com absoluto desgosto que a união e a independência de nossos países constituem uma ameaça para quem aspira seguir controlando nossas riquezas naturais, nossas economias e nossa vontade política, quer dizer, nossa soberania.
É evidente que diante dos avanços progressistas e democráticos em nosso continente, o império norte-americano, que nos últimos cem anos exerceu sua hegemonia sobre a vida de nossas repúblicas, iniciou uma contra-ofensiva anti-histórica e retrógrada com o propósito de reverter a união, a soberania e a democracia em nosso continente, e impor a restauração da dominação imperial em todos os âmbitos da vida de nossas sociedades.
Neste sentido, compartilhamos a visão de muitos na América Latina e no mundo: esta contra-ofensiva se iniciou em 28 de junho deste ano, com o perverso golpe de estado cometido na irmã Pátria hondurenha.
Dizem os militares golpistas de Honduras, e os poderosos porta-vozes conservadores de Washington, que esta operação contra o presidente Zelaya foi uma manobra pensada em função de destruir a Aliança Bolivariana dos Povos de Nossa América (ALBA). Uma aliança que é um projeto de paz, de justiça social, de união solidária, de democracia participativa com e para as maiorias de nossos países; e de uma vez é um projeto independentista guiado por lideranças legítimas dos humildes de hoje.
Este infame golpe foi respondido dignamente pelo povo hondurenho, enfrentando a repressão e demonstrando que são dignos herdeiros do heróico Morazán que, passados 200 anos, ainda vigiam.
Por isso, em função da unidade que nos convocou sempre, e também seguindo os acontecimentos destes últimos tempos, permito-me lhes fazer um chamado de atenção. Companheiros e companheiras: desde meu Governo estamos realmente e profundamente preocupados com a situação de tensão com a irmã República da Colômbia, frente à instalação de sete bases militares norte-americanas nesse íntimo e irmão território sulamericano.
Queremos denunciar, aqui, agora, que este fato é parte de um plano político e militar orquestrado para acabar com o projeto da União de Nações Sulamericanas (Unasur), além de ser a maior ameaça neste momento histórico para as infinitas riquezas que jazem em nosso continente, isto é: o ouro negro, nosso petróleo; o ouro azul, as grandes reserva aqüíferas; o ouro verde, nossa Amazônia.
Nos últimos anos tenho denunciado uma perseguição permanente contra nosso país e nossa Revolução Bolivariana, por parte das elites que dirigem o império norte-americano. Nosso povo derrotou — diante do assombro da opinião internacional -- golpes de estado, sabotagem econômica e a investida de um descarnado terrorismo midiático de alcance nacional e internacional.
Irmãos da América do Sul: a justificativa política e midiática do Governo da Colômbia e os chefes destas bases militares, são uma ameaça concreta à paz, a independência e aos direitos do povo da Venezuela.
Nos últimos dias, recebemos as manifestações de preocupação e de solidariedade dos povos e governos do continente; assim como também de um importante setor da sociedade colombiana. Acreditam, quem nos ameaça, que podem deter o curso da nova e heróica história que hoje escrevemos em paz. “Fazer-nos respeitáveis é a garantia indestrutível de seus afãs ulteriores por lhes conservar”, disse José Gervasio Artigas.
Mas assim como faz 200 anos nossos povos fizeram retroceder o decadente império espanhol, hoje contamos com condições morais e políticas superiores para neutralizar a estes setores de guerras e assim garantir que nosso continente seja uma terra de paz, sem ameaça militar.
Seria um engano grave pensar que a ameaça é só contra Venezuela; vai dirigida a todos os países do sul do continente, sentencia o companheiro Fidel em suas reflexões intituladas “Sete punhaladas no coração da América“.
Geopoliticamente estamos ao sul da hegemonia, e é uma realidade que, transcendendo a tendência política dos governos do mundo, o problema da guerra diz respeito à humanidade inteira. Nunca nossas angústias foram secretas, e dessa verdade eterna deu mostra o Apóstolo da América, José Martí, ao deixar em 1884, para este nosso tempo, uma incógnita vigente: “O que somos General (Máximo Gómez), os servidores heróicos e modestos de uma idéia que nos esquenta o coração, os amigos leais de um povo em desventura, ou os caudilhos valentes e afortunados que com o chicote na mão e a espora no salto se dispõem a levar a guerra a um povo, para assenhorear-se depois dele”.
Não podemos ocultar o clamor de todo o povo colombiano e seu desejo de alcançar a paz em seu país. Sete décadas de guerras no interior da Colômbia só acharão resolução em uma saída política e negociada que respeite as garantias e gozem do respaldo de toda América do Sul.
O povo da Colômbia tem direito à paz. Não pode pretender uma elite servil, cujo negócio é a guerra no irmão país, expandir e impor seu conflito armado com a pretensão de estigmatizar e desestabilizar aos movimentos progressistas e revolucionários que de maneira legítima, democrática e pacífica avançamos com os sonhos e bandeiras dos libertadores, a cumprir as tarefas ainda pendentes de união, justiça e independência.
Não acreditamos em uma sociedade carente de conflitos, isso seria uma besteira, mas entendemos que somos chamados a assumir melhores conflitos, a reconhecê-los e contê-los, a viver não apesar deles, mas sim produtiva e inteligentemente com eles. Só um povo cético, maduro para o conflito, é um povo maduro para a paz, parafraseando o nosso irmão colombiano Estanislao Zuleta. E se quisermos uma paz verdadeira, devemos responder a tempo com clareza e valentia às necessidades mais sentidas de nossos povos.
Chegou a hora da América do Sul, a hora da Unasur. Confiamos na capacidade política de nossa nascente união para enfrentar na atualidade esta ameaça, que compromete o futuro de nossas repúblicas, o futuro de nossos povos e o futuro de toda a humanidade.
Sigamos, pois, companheiras e companheiros, a máxima de Bolívar: constituamos esse grande Pacto Americano “que formando de todas nossas repúblicas um corpo político, apresente a América ao mundo com um aspecto de majestade e grandeza sem igual nas nações antigas. À América assim unida, se o céu nos conceder este desejado voto, poderá chamá-la rainha das nações e mãe das repúblicas”.
Fraternalmente,
Hugo Chávez Frías
da Agencia Bolivariana de Noticias
Belíssimo pronunciamento de Hugo Chávez dentre outros de igual sabedoria.
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