domingo, 13 de março de 2011

Europa - O pulo da extrema-direita

Do Estadão.
Preocupante.


Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo
A política francesa tem uma nova vedete. Ela se chama Marine Le Pen. É a filha do líder populista de extrema-direita Jean Marie Le Pen, que, aos 80 anos de idade, transferiu o trono para a filha. Em poucos meses, Marine fez mais do que o próprio pai nunca conseguiu.
O resultado de uma pesquisa de intenção de voto divulgada na segunda-feira surpreendeu: no caso de uma eleição, Marine Le Pen, a candidata populista, xenófoba e contrária a uma Europa comum, chegaria em primeiro lugar no primeiro turno. A um ano das eleições para a presidência, a pesquisa teve o efeito de um eletrochoque. Tanto a direita quanto a esquerda entraram em pânico. Em alguns casos, a histeria tomou conta.
Eis os resultados: Marine tendo como rivais o presidente Nicolas Sarkozy (direita) ou François Hollande (socialista) obteria 23% dos votos. Seus dois adversários conseguiriam 21%. Um outro caso: se seus concorrentes fossem Sarkozy (direita) e Dominique Strauss-Kahn (socialista), ela teria 24% dos votos; Strauss-Kahn, 23% e Sarkozy se contentaria com 21%.
Com Marine, a extrema-direita não só derrotaria os dois outros candidatos rivais, como também o atual chefe de Estado, Sarkozy, seria eliminado no primeiro turno. Nem participaria do segundo. Felizmente, as paredes do Palácio do Eliseu são grossas. Não fosse assim, a região do Faubourg St. Honoré, onde ele se situa, ouviria o eco, na manhã de ontem, dos lamentos lúgubres e dos insultos a altos brados.
Como explicar o avanço do partido Frente Nacional de Le Pen?
Primeiro elemento: Marine não é mais eloquente do que o pai, mas é uma mulher. Menos culta, menos provocadora, menos cínica, diz as mesmas coisas com maciez e delicadeza. Enquanto seu pai, Jean-Marie, é um antissemita alucinado, Marine quase não toca nos judeus. Seu horror do estrangeiro, sua preferência pelos "gauleses", concentra-se nos árabes, nos ciganos, nos africanos. Sua xenofobia "em favor da segurança pública" reflete exatamente a xenofobia da extrema-direita francesa.
Marine tem um discurso econômico absurdo. Ela se apresenta como "defensora dos fracos", dos massacrados, dos fracassados. Ataca ricos, banqueiros. E como o Partido Comunista Francês quase desapareceu, ela seduz muito os proletários órfãos da "vulgata" comunista.
Outra explicação: na eleição de 2007, Sarkozy retomou temas da extrema-direita xenófoba. Com isso, conquistou os votos que seriam direcionados à Frente Nacional e conseguiu se eleger. Mas depois teve a infeliz ideia de se "abrir para a esquerda", o que foi um fracasso. Não conseguiu reduzir a insegurança da população. E os imigrantes continuam chegando.
Há pouco tempo, percebendo o perigo, ele tentou aplicar o mesmo "golpe" de 2007 e retomou os temas da Frente Nacional: a França branca, a França não árabe, a França segura, etc. Mas esse retorno fulgurante para os temas fundamentais da extrema direita tampouco funcionou.
Dessa vez, os xenófobos franceses preferiram o original (Marine) à cópia (Sarkozy). Resultado: o discurso xenófobo do presidente teve um efeito contrário, aumentou o capital eleitoral de Marine.
A tudo isso se acrescente o profundo descrédito da população com seu presidente. Esse homem falhou em tudo. Mostrou tanta vaidade e arrogância que hoje é rejeitado por uma grande maioria de franceses, incluída aí a extrema-direita. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
É CORRESPONDENTE EM PARIS 

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