O PSDB/UDN continua subestimando o Nordeste
Há 16 anos eu era apenas um concluinte do ensino médio, matriculado na então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN, atual Instituto Federal do RN). Como aluno do curso de Eletrotécnica, participei de uma visita à Hidroelétrica de Paulo Afonso, na Bahia. E, embora fosse apenas um nerd, tinha alguma curiosidade por economia e política. Não pude deixar de notar, portanto, quando nosso guia, Seu João – profissional que demonstrava o orgulho de ser funcionário da Chesf – nos narrou as dificuldades para que a primeira usina, Paulo Afonso I, fosse construída e entrasse em operação em 1954. Apesar do empenho pessoal de Getúlio Vargas, vários membros de sua equipe econômica eram contrários à empreitada, vista como um investimento de “retorno duvidoso”. Fácil perceber que não é de hoje que as circunstâncias levam presidentes trabalhistas a comporem parte de sua equipe com economistas conservadores (naqueles tempos, ligados àUDN). Esses críticos afirmavam, ainda segundo o relato de Seu João, que nem em 30 anos o Nordeste teria como fazer uso da capacidade instalada de Paulo Afonso I, cerca de 180 MW. O resultado que nós vemos hoje foi bem diferente das previsões. Passados 55 anos, o complexo de Paulo Afonso gera 4.280 MW. Ou seja, a primeira usina (aquela que permaneceria “ociosa” por 30 anos) gera apenas 4,2% do total de Paulo Afonso. Se compararmos com o valor gerado ao longo do Rio São Francisco pela Chesf, de quase 10 mil MW, a usina pioneira corresponde apenas a 1,8% do total.
Todo esse preâmbulo foi para comentar a entrevista do Deputado Federal do PSDB e candidato derrotado a governador do Espírito Santo, Luiz Paulo Velloso Lucas (publicada originalmente pela Folha e reproduzida na íntegra aqui, no Vi o Mundo). Velloso critica, nessa entrevista, o modelo de partilha e sugere a volta do regime de concessão, pois na sua opinião “é uma sandice achar que a Petrobrás pode fazer tudo” e outras empresas deveriam entrar para dividir o bolo.
Mas onde eu quero chegar? Na última pergunta, o jornal questiona acerca da queda no valor das ações da Petrobrás. Qual a resposta do deputado?
A Petrobras está desviando recursos para investimentos de rentabilidade duvidosa, como as refinarias do Nordeste. A empresa contrata serviços e equipamentos pagando três, cinco vezes mais caro que as concorrentes. É isso o que o mercado olha.
Cacete! Assim, do nada, ele põe a culpa de um movimento especulativo, típico das bolsas de valores, nos nordestinos. Para ele, nós os cabeças-chatas deveríamos vender nosso petróleo (o Nordeste é o segundo maior produtor de petróleo do Brasil) em estado bruto! Construir refinarias para agregar valor à produção e gerar empregos qualificados na região? “Nham, investimento de rentabilidade duvidosa”.
Como a gente percebe desta história, a UDN pode ter mudado de nome para PSDB, mas o pensamento é o mesmo. Desdenhar de nossa capacidade intelectual (e aqui me refiro não apenas a nós os nordestinos, mas a todos os brasileiros) e de engenho para apostar na inevitabilidade de que o Brasil não passa de uma grande hacienda produtora de comodities e exportadora de pedras, esse é o pensamento da intelligentsia do PSDB.
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