terça-feira, 10 de agosto de 2010

Uma ilha perdida - América do Sul

Da Carta Capital.

Uma ilha perdida


De Lula a Uribe, ninguém escapou das sátiras da série animada com presidentes que virou hit na internet
Ao fim de mais uma cúpula entre chefes de Estado, Luiz Inácio Lula da Silva decide levar os colegas para um passeio em seu navio. Sem se fazer anunciar, uma tormenta desaba sobre os navegantes e, como era de se esperar, Hugo Chávez e Álvaro Uribe começam a disputar o controle da embarcação: o venezuelano vira o leme à esquerda; o colombiano, à direita. Final da história: todos naufragam e terminam em uma ilha perdida no meio do nada.
O enredo é, obviamente, fictício. As premissas de que parte, nem tanto. Conflitos, idiossincrasias e notícias cotidianas que envolvem os mandatários da América Latina são a mola mestra de La Isla Presidencial (http://islapresidencial.net), série de animação criada por dois publicitários venezuelanos que se transformou em sucesso na internet.
O primeiro episódio do programa, escrito em Caracas e animado em Buenos Aires, registra hoje mais de 2 milhões de visitas na rede, e propostas para que a ideia assuma outros formatos não têm faltado, segundo conta um dos autores da série, Oswaldo Graziani. “A questão é mais econômica do que política, se bem que o problema político também exista. A América Latina ainda não está preparada para ter um produto assim, e que seja caro de fazer.”
Atualmente no quarto episódio, o programa “faz chacota de todos por igual”, considera o autor, que credita à imparcialidade das piadas boa parte do êxito da série. Em histórias que costumam não exceder os cinco minutos, La Isla Presidencial ri da capacidade oratória infinita de Chávez, por exemplo, ou da suposta credulidade com que Evo Morales adere a todos os projetos do colega venezuelano, ou da vaidade e dos dotes físicos de uma Cristina -Kirchner que, apesar de estar em farrapos, não dispensa um par de botas de salto.
Rafael Correa, do Equador, é representado como uma mistura de Rambo e Steven Seagal, Uribe está todo o tempo urdindo tramoias para escapar sozinho da ilha, Daniel Ortega, da Nicarágua, se expressa com uma dicção impossível, Michelle Bachelet termina devorada pelos próprios companheiros, e o personagem de Lula está sempre de bem com a vida, fruto do que seria seu apreço pelas bebidas espirituosas.
“Investigamos qual é a percepção das pessoas sobre seus presidentes. Para nós é mais interessante pesquisar e ver humoristas que os imitem em seus países do que observar os presidentes em si”, afirma Graziani.
Integram a trama ainda o rei Juan Carlos e o presidente José Luis Zapatero, da Espanha, e o norte-americano Barack Obama, que no segundo episódio chega à ilha sem que ninguém perceba – um dos momentos mais engraçados da série.
Em parte, por causa das dificuldades financeiras que implica levar adiante um projeto de animação sem patrocinadores, em parte por causa da tensão que se verifica hoje na Venezuela, à beira de um enfrentamento bélico com a Colômbia, a série foi interrompida, mas a trégua, diz o publicitário, tem data para terminar.
Três episódios inéditos estão em produção e devem ser levados à internet até dezembro. Neles, chegam novos mandatários à ilha: Sebastián Piñera, do Chile, José Mujica, do Uruguai, Juan Manuel Santos, recentemente eleito na Colômbia, e Fernando Lugo, do Paraguai.

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