Serra reedita discurso da direita em 1964
Tenho sido um crítico frequente de Serra, pois o que mais me causa repulsa é ver alguém que já se alinhou às correntes progressistas mudar de lado e atacar o que antes defendia. A atual campanha revela cada vez mais no que Serra se transformou, a ponto de repetir antigos mantras da direita, que já levaram o Brasil a um golpe de Estado e a 25 anos de ditadura, atraso, perseguições e morte.
Serra nem se envergonha ao dizer que o país virou uma “República sindicalista”, consciente do significado desta expressão na história política brasileira. Serra sabe muito bem, porque viveu isso como estudante, que a criação de uma República sindicalista era uma das acusações que a direita, com o apoio da mídia, assim como o tucano hoje dispõe, dirigia ao presidente João Goulart na tentativa de derrubar o seu governo legítimo.
Jango era apresentado como um comunista disfarçado que queria implantar no país uma República Sindical, que iria contra os valores democráticos do país. Na verdade, Jango era o defensor dos valores democráticos, enquanto as forças conservadoras, com apoio dos militares, não hesitaram em romper a ordem democrática para depor o presidente. Serra, com sua declaração, atiça as forças mais obscuras da sociedade brasileira, numa versão piorada de Carlos Lacerda, que tanto pediu o golpe que acabou também sendo vítima dele.
Serra deveria pedir perdão ao citar o nome de Jango em declarações melífluas que vão contra tudo o que o ex-presidente defendia. A desonestidade intelectual do tucano ultrapassou todos os limites e ele pode ser classificado hoje, sem margem de erro, como um homem de direita. O estudante que chegou a presidir a UNE e o cidadão que precisou sair do país durante a ditadura está definitivamente morto. Não existe nem sombra dele na maneira como pensa e se manifesta.
Serra falou em República sindicalista como uma privatização do Estado. Como disse a insuspeita Folha de S.Paulo, buscou “um jeito de usar o termo privatização de forma a associá-lo ao governo Lula, e de maneira negativa”. Só que a tentativa não cola, porque Serra se revela o verdadeiro privatista no momento seguinte. Nada do que fala é gratuito. Ao atribuir à tal elite sindical que teria tomado o Estado o aumento da corrupção e a ineficiência do gasto público, dá como exemplo os Correios. Todo mundo sabe o olho grande que existe na privatização dos Correios e que a garantia do monopólio do Estado no serviço precisou ser garantida no STF. A privatização de empresas públicas corre no sangue dos tucanos e eles precisam dela para se realimentarem.
A falta de escrúpulos de Serra prossegue quando assume a condenação a Lula por suposta infração da lei eleitoral ao citar Dilma Rousseff em atos do governo. Como mostramos hoje no Tijolaço, Serra é mencionado a cada discurso do atual governador de São Paulo que o sucedeu. Serra certamente sabe disso, mas disfarça, porque também sabe que ninguém da mídia vai apurar ou condená-lo por isso. É realmente incrível a transformação desse cidadão, que se tornou uma pessoa nefasta para o país.
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