quarta-feira, 17 de março de 2010

Aos sãopaulinos, um alento

Da imprensa São-Paulina.
Confesso que tirou um pouco do meu desânimo. Esse texto e o do plihal em seu novo blog.
Ainda dá.

O fantasma dos natais passados

O torcedor são-paulino anda mais ressabiado do que nunca. Critica o time quando empata, quando perde e quando ganha. Sente que falta conjunto, que falta aplicação, que falta bom desempenho e teme eliminações precoces na Libertadores e mesmo no Paulistinha. Pensa consigo mesmo: "Ah, de novo? Mais um ano em que seremos a "mãe" dos outros brasileiros no torneio continental?"

Com efeito, a carga psicológica de ter caído para Internacional (final, 2006), Grêmio (oitavas, 2007), Fluminense (quartas, 2008) e Cruzeiro (quartas, 2009) oprime o torcedor. Eles não querem servir de saco de pancada, mais uma vez. Querem ver um time vibrante, raçudo e brigador, de preferência com pinta de campeão.

O time do São Paulo na era Ricardo Gomes não é vibrante. É frio e administra seus jogos (às vezes bem, às vezes mal), sempre jogando o mínimo necessário para atingir seus objetivos. A lei do mínimo esforço aplicada pelo time incomoda a torcida.

Até aí, sem problemas. Concordo. Mas será que não estamos indo longe demais? Será que não estamos pressionando demais um time e, sobretudo, um treinador que nem estava por aqui quando as eliminações em anos passados ocorreram?

Talvez o belíssimo tricampeonato brasileiro tenha feito o torcedor esquecer como era o futebol na época de Muricy. O São Paulo só vivia de chuveirinho e suas jogadas mais perigosas eram as de bola parada. Taí, por exemplo, um ponto em que o Tricolor efetivamente melhorou, dos anos passados para este. Hoje, as jogadas são mais variadas, trabalha-se mais a bola com infiltrações pelo meio, há mais lances pela linha de fundo, e a bola parada virou apenas mais uma arma, de um arsenal mais vasto de recursos.

Nos últimos anos da era Muricy, o São Paulo jogava quase num efetivo 5-3-2, uma vez que os alas (Zé Luis e Jorge Wagner) tinham pouquíssima liberdade para descer até as pontas do campo, indo no máximo até a ponta da área, de onde chuveiravam a bola para o centroavante concluir. Centroavante este que mais jogava de costas para o gol que de frente, diga-se de passagem.

Sinceramente, acho o futebol do São Paulo 2010 melhor que o de 2009 e 2008. Ainda falta mais pegada e aplicação, mas nem tudo está perdido. Principalmente porque o time segue trabalhando pela "lei do mínimo esforço", fazendo apenas o estritamente necessário para cumprir suas obrigações (ir às semifinais do Paulista e às oitavas da Libertadores). O que vale dizer que ainda não tivemos a chance de avaliar o time numa circunstância de real "vida-ou-morte", para identificar se a equipe está mesmo aquém desses desafios.

Há quem cite os clássicos como parâmetros. Vou discordar aqui. Se tivéssemos ganho da Portuguesa, ninguém teria se mostrado mais confiante. Palmeiras, então em péssima fase, idem. Só, talvez, a vitória contra o Santos teria convencido os ressabiados são-paulinos do "poder de decisão" do time. Mas, cá pra nós, o que eles estariam decidindo, naquelas partidas? Eu vos digo: rigorosamente nada. O Curíntia, por exemplo, ganhou o clássico da Porcaria, mas isso não impediu o time de mostrar um futebol pouco convincente ao longo da temporada e mesmo ficar atrás da gente na classificação geral do Paulista.

Moral da história: acho que só dá mesmo para cobrar espírito de decisão do nosso time quando estivermos num momento decisivo. E não custa lembrar que o comando do Ricardo Gomes, goste-se ou não do estilo dele, até agora só trouxe benefícios ao São Paulo. O treinador pegou o time na 16a posição do Brasileiro e levou ao 3o lugar, com chance de ser campeão até a última rodada.

Na temporada 2010, conseguiu dar ritmo de jogo a um vasto elenco, desgastando minimamente as peças (à custa de maior entrosamento, é verdade) e produzindo uma circunstância à europeia, em que o São Paulo pode contar facilmente com 15, 16 titulares -- uma necessidade absoluta se o objetivo é, por exemplo, tentar vencer o Curíntia num domingo e jogar no México para ganhar na quarta-feira, como acontecerá mais adiante no nosso maravilhoso calendário, feito sob medida para ferrar o Tricolor (não custa lembrar mais uma vez que o São Paulo é o único clube na Libertadores que, imediatamente antes de cada um dos jogos pelo torneio continental, pega um clássico). Além disso, e talvez mais importante, a equipe comandada por Ricardo Gomes está cumprindo as metas da temporada, até agora. Está, já faz algumas rodadas, no G-4 do Paulista e tende a obter a classificação na Libertadores sem muito sufoco, graças a uma vitória fora de casa contra o fraco Nacional.

Não, não estou tapando o sol com a peneira, nem dizendo que o futebol está maravilhoso. Mas, sinceramente, faz muito tempo que não vejo o São Paulo ser campeão com um futebol maravilhoso (na melhor das hipóteses, 2005; na pior, 1993). E não é o treinador que produz a criatividade exigida para as belas apresentações; são os jogadores em campo.

Para quem diz que não houve evolução alguma do São Paulo desde o início da temporada, basta comparar os 5 primeiros jogos do ano com os 5 últimos. Vamos lá?

Cinco primeiros jogos:

17/1 - São Paulo 1x3 Portuguesa
Mereceu perder? Sim.

20/1 - Mirassol 1x1 São Paulo
Mereceu empatar? Não, jogou com o time reserva e mereceu perder, fez gol na sorte no fim do jogo.

23/1 - São Paulo 3x0 Rio Claro
Mereceu ganhar? Sim.

28/1 - São Paulo 3x0 Paulista
Mereceu ganhar? Sim.

31/1 - Sertãozinho 2x2 São Paulo
Mereceu empatar? Não, jogou com o time reserva e mereceu perder, anotando o empate num gol contra no final.

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